Mês passado, após ler o excelente artigo “Mercado de Trabalho em TI para Suporte Técnico”, achei interessante convidar o autor do mesmo para um bate-papo para explorar ainda mais o tema, bem pertinente ao foco deste blog e até porque concordo com alguns itens abordados e discordo com outros. No artigo, escrito por Alberto Parada são discutidas as mudanças nesta carreira e os desafios para quem atua na área de Suporte Técnico. Tenho certeza que vocês vão gostar bastante desta entrevista.
Alberto Marcelo Parada é Vice-Presidente de Educação da SUCESU-SP, formado em administração de empresas e análise de sistemas, MBA em Gestão de Projetos, especialista em Gestão de Projetos e Outsourcing. Integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP e atuou como executivo no Grupo Amper Medidata, IBM, CPM-Braxis, Fidelity e Banespa, entre outros; é voluntário no HEFC hospital de retaguarda para portadores de Câncer.
Paulo: No seu artigo você diz que acredita no desaparecimento da carreira de Suporte Técnico em TI. Por mais que a operação esteja cada vez mais simplificada, a dependência das empresas junto à TI aumenta a cada dia. Quem vai suprir esta demanda?
Alberto: O aumento da dependência das empresas por TI e o desaparecimento da carreira de Suporte Técnico são coisas diferentes. A dependência das empresas está diretamente ligada à necessidade de sobrevivência no mercado competitivo e a tecnologia permite que elas aumentem sua competitividade com custos menores. O profissional que irá suprir as necessidades das empresas com tecnologia não será o suporte técnico de campo, que tradicionalmente atende ao usuário final. Quem irá suprir as necessidades das empresas são os profissionais especializados e conhecedores de soluções corporativas.
Para entender o desaparecimento da carreira de suporte técnico, faz-se necessário uma reflexão. Há não mais que uma década e meia, ter computador em casa era algo para poucos; saber utilizar o Windows era algo raríssimo e configurar uma rede era algo para profissionais.
Atualmente, instalar um PC ou um notebook, diferente de anos atrás, é uma tarefa relativamente simples. Antigamente era necessário um técnico para montar uma rede com cabos; hoje é feito com um equipamento que integra roteador e wireless e que as operadoras enviam pelo correio.
Nas empresas não é diferente. Hoje, quando um novo funcionário inicia, ele recebe, normalmente de um profissional do RH, seu smart phone, seu notebook e um manual com uma série de usuários, senhas e explicações de como instalar os softwares que irá utilizar para as suas atividades. Em casos raros, ele liga para uma central que o ajuda. É difícil encontrar na empresa um técnico que vai até a mesa do funcionário para ajudá-lo; quase tudo é self-service ou plug and play.
Paulo: Comente a respeito da mudança da atividade de suporte técnico de alguns anos até hoje. Hoje temos suporte técnico, BYOD e diversos dispositivos.
Alberto: Quando a carreira nasceu, a tecnologia engatinhava e, diferente do que vivemos hoje, onde tudo pode ser resolvido pela tecnologia utilizando-se software, os profissionais que detinham o conhecimento do hardware tinham uma importância enorme para as corporações. Sua formação raramente contemplava uma passagem pela universidade; era baseada em um curso de nível médio técnico em eletrônica, com especialização em informática, além de bons fundamentos em mecânica. Este coquetel de competências era o que garantia a empregabilidade.
Em época de softwares limitados e hardwares caríssimos (e de difícil operação), o desafio era conseguir retirar o melhor de seu processamento, prolongando ao máximo sua vida útil. Era muito comum comprar um equipamento e agregarem-se a ele novos modelos de processadores, memórias e disco.
A comoditização do hardware, a simplificação na operação dos softwares e a enorme redução dos custos nos equipamentos, provocou uma revolução no perfil do profissional que faz o suporte técnico nos dias de hoje. Passou de alguém que era um profundo conhecedor de eletrônica digital e mecânica para um especialista em software básico, além de uma infindável quantidade de ferramentas todas baseadas em software.
Assim, o profissional que suporta a configuração dos BYOD e outros dispositivos, possui um nível de conhecimento muito inferior ao de anos atrás, onde ser Suporte Técnico era o ápice de uma carreira de técnico de campo. E hoje é apenas o primeiro e breve degrau.
Paulo: A adoção de tecnologia em empresas do mercado PME vem crescendo. As oportunidades em suporte técnico não acompanham esse movimento?
Alberto: As PMEs ainda estão bem distantes de utilizar o que poderiam de tecnologia com baixo custo. Falta uma popularização maior de soluções como Cloud entre outras.
Acredito que precisamos conceitualizar o entendimento de Suporte Técnico. Falamos em nosso artigo sobre o final da carreira dos técnicos de campo (field service) e a substituição destes profissionais pelo auto-atendimento pelos usuários. Isso é diferente dos profissionais especialistas em determinadas tecnologias, que suportam funcionamento de storages, networks, servidores, cloud e etc. Estes profissionais, ao contrário dos de Suporte Técnico tradicionais, estão tornando-se mais generalistas e com um nível nunca antes alcançado de empregabilidade.
As PMEs podem ser comparadas com os usuários residenciais: utilizam pequenas redes e, na maioria dos casos, serviços web ou remotos, a necessidade de suporte é pontual. Em casos extremos, liga para a operadora quando tem uma indisponibilidade no seu link ADSL ou para seu serviço de e-mail quando esta indisponível.
Paulo: Temos também o mercado doméstico. Nunca se vendeu tantos equipamentos como Notebooks, Tablets e smartphones. Não há espaço para os técnicos e consultores autônomos?
Alberto: Uma excelente pergunta. Você conhece alguém que compra um equipamento dos que você menciona em sua pergunta e, ao invés de procurar informações em fóruns na internet ou no Google, paga o serviço de um suporte técnico para solucionar o problema?
Paulo: Qual seria a sua recomendação para os profissionais que atuam nesta área? Uma adaptação seria o melhor caminho a seguir?
Alberto: Uma alternativa interessante e coerente é dar o próximo passo no sentido vertical da carreira, deixando a base da pirâmide, onde o seu cliente é o usuário final e migrar, adquirindo conhecimento, para responder às necessidades das corporações.
Como você menciona em uma das suas perguntas, a tecnologia está, a cada dia, mais enraizada nos negócios das empresas. Sem ela torna-se impossível reduzir os custos (extremamente necessário em épocas de crise) e aumentar a competitividade (em épocas de bonança).
Conhecer soluções corporativas de alto desempenho e complexidade, que aproximam o negócio a TI é o grande diferencial esperado para os profissionais da área no futuro. Sem dúvida aí está uma excelente oportunidade para quem deseja manter-se atualizado, motivado e, principalmente, empregado.